Na revista Única do jornal Expresso de 21 de Março saiu uma reportagem sobre seis mulheres lésbicas (e bissexuais) portuguesas.
Em geral gostei da reportagem que teve mais atenção graças à saída do armário da Solange F., apresentadora de televisão na Sic Radical. Já era tempo de uma figura pública além da Dina se assumir publicamente como lésbica. Livros temáticos, apoios a actividades LGBT realizadas em Portugal são importantes mas quando chega a hora de pôr fim a boatos afirmando publicamente e sem medos a sua orientação sexual a coisa muda de figura. A Solange mostrou ter coragem ao falar de maneira aberta, informada e sem preconceitos da sua orientação sexual.
O único depoimento com o qual discordo foi o de uma das autoras do blogue Lésbica: simples ou com gelo?. Parte do seu depoimento pode ser lido aqui. A Sofia diz que no que toca à sua orientação sexual não gosta de se definir pois não sabe se os sentimentos que tem hoje para com mulheres não serão dirigidos amanhã a homens. Respeito e compreendo o desejo de não colocar uma etiqueta na sua orientação sexual. A sexualidade é uma coisa muito vasta e complexa e sei que nem todas as pessoas se inserem nas etiquetas "homossexual", "bissexual" e "heterossexual". O futuro é (deixem passar o cliché) incerto e apesar de podermos ter uma ideia a verdade é que não sabemos se amanhã nos vamos apaixonar por mulheres ou por homens. Mas, na minha perspectiva, uma pessoa interpreta a sua orientação sexual de acordo com os sentimentos que nutriu no passado e no presente e não no futuro. Diz também que a única vez que foi discriminada foi quando esteve num jantar com mulheres lésbicas e bissexuais e, por estar grávida, todas partiram do princípio que ela era heterossexual. É estranho que não se sinta discriminada por todas as pessoas com quem ela se cruza no dia-a-dia partirem do princípio que ela se relaciona com homens, que ela é heterossexual. As lésbicas recebem uma educação heterossexista como todas as pessoas e parte do coming-out pode passar pela desconstrução desses preconceitos. Também não se sente discriminada por não ter os mesmos direitos que os unidos de facto de sexos diferentes, por não poder casar, por não poder adoptar uma criança com a companheira, por não ter direito à procriação medicamente assistida, etc. Assume-se em qualquer lugar pois não receia reacções negativas. Não tem demonstrações públicas de afecto por vontade e não por receio de possíveis agressões físicas ou verbais. E não precisa de um artigo na constituição que a defenda de possíveis casos de discriminação. Acha também que não será «através de marchas pela Avenida da Liberdade» que iremos beneficiar das mesmas "regalias" que os casais de pessoas de sexos diferentes. Esquece-se ela que também foi através das marchas que hoje em dia os homossexuais têm direito à união de facto e o artigo 13º da constituição menciona a orientação sexual. E que é graças a muitas das pessoas que participam nas marchas do orgulho LGBT que a sociedade de hoje tem abertura suficiente para que ela possa pesar os prós e os contras em dar a cara numa reportagem e decidir fazê-lo. Talvez também seja contra marchas pelos direitos das mulheres, marchas de trabalhadores, etc. As respostas a alguns destes argumentos podem ser encontradas na caixa de comentários do post linkado.
Se a reportagem não servir para mais nada que sirva para mostrar que as lésbicas (como todas as pessoas de todas as outras orientações sexuais) são diferentes umas das outras, com ideias, maneiras de estar, opiniões, histórias de vida e visões sobre o activismo LGBT diferentes entre si.
segunda-feira, 24 de março de 2008
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3 comentários:
concordo com muito do que disseste. a visibilidade, marchas...a discussão sobre o direito a reprodução assistida, adopção, casamento civil..etc, independentemente de queremos usufruir desses direitos ou nao, temos de os defender e têm de estar garantidos. estranha-me quem não entenda isso...:/
Sei que este post já tem uns dias, mas só agora por aqui passei e não quis partir sem deixar algo.
Partilho a 100% com a tua opinião, temos que batalhar e issso implica sair à rua e reinvidicar pela nossa igualdade de direitos.
Dantins
VISIBILIDADE, VISIBILIDADE, VISIBILIDADE.
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